Conforme prometido, vamos dar sequência à nossa conversa sobre gerar relevância no projeto de design da embalagem, desta vez falando sobre os elementos que o compõe. Para que o design da embalagem posicione corretamente a marca e produto, e ainda comunique seus atributos de forma estratégica, é preciso equilibrar a composição. Dar o devido peso a cada elemento faz toda diferença na compreensão da mensagem, elencar os atributos, seleção de cores, tipografia, elementos gráficos, tudo precisa estar em sinergia como numa orquestra. A seguir uma seleção de alguns dos principais aspectos que devem ser controlados para o sucesso do projeto:
Marca - é a assinatura do produto, sua identificação, portanto deve ficar visível e compreensível de que trata-se da marca. Não existe obrigatoriedade dela ser o principal ponto de atenção, muitas vezes a marca precisa dividir a atenção o nome do produto (figs. 1)
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E em outros casos a marca brilha soberana em primeiro plano, com muito mais destaque do que as outras informações (fig. 2).
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Ainda em outros casos a embalagem precisa englobar duas marcas, da linha e da fabricante (fig. 3).
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O que determina os pesos de cada elemento é a estratégia da empresa, da linha e do produto. A única obrigatoriedade neste assunto é que a proposta seja clara, a marca deve estar evidente e o consumidor precisa entender quem é marca fabricante, quem é nome do produto, quem é descritivo (detox, bolinho, multiação, express, etc), falta de clareza quando se trata de marca e nome de produto pode ser um tiro no pé.
Tom de voz - Definir o tom da linguagem é um fator fundamental para aquela marca criar "vida" e ganhar personalidade. Lembrando sempre que o consumidor busca "relacionamentos sérios" com as marcas, sendo assim ele precisa se identificar, é quase uma paquera, tem que haver entendimento e sinergia. Um tom de voz carregado de humor, com caricaturas e frases engraçadinhas, combina com marcas irreverentes, mas aplicado na embalagem de uma marca formal, talvez comprometa sua credibilidade.
Metáforas - uma nuvem na embalagem de papel higiênico, flocos de gelo na embalagem de sorvete, etc - os desenhos mesmo que abstratos são carregados de significados ocultos. Saber como serão interpretados pelo público em questão é a chave para a criar relevância na mensagem. Esta decisão deve ser pautada sempre pelo olhar do consumidor, um exemplo: certa vez uma conhecida marca de absorventes higiênicos visando transmitir "maciez" inseriu uma forma abstarata que lembrava uma nuvem, de cor rosa - cor principal da linha - no front da embalagem, prejudicando instantaneamente a venda do produto. Num grupo focal com consumidoras identificou-se que o que mais pesava na análise visual era a cor, que lembrava o sangue, algo que deve ficar bem longe do imaginário na compra deste produto. O desenho passou para a cor verde, identificada como frescor pelas consumidoras, resolvendo o problema.
Fotografias, ícones, desenhos ou pinturas - Aproveitando o mesmo exemplo, figuras são elementos de informação instantânea por serem rapidamente interpretados pelo nosso cérebro. Desenhos e imagens explicam o conteúdo da embalagem e são pistas para entender o posicionamento da marca. Os ícones são desenhos extremamente simplificados, que funcionam por associação e convenção, como o ícone de reciclagem, por exemplo. Podem ser usados para informar ou como elementos decorativos.
Uso das cores estrategicamente - As cores são ferramentas importantes do design, eu arriscaria dizer que uma das principais. As cores são capazes de influenciar a reação dos consumidores com relação à embalagem e seu produto, estão ligadas ao humor, estado de espírito, são capazes de produzir estímulos. Cores como magenta e amarelo sugerem promoção, preços baixos, já cores frias ou sóbrias sugerem sofisticação e requinte. No exemplo do absorvente a cor rosa levou a uma interpretação inesperada. É importante controlar o significado das cores e a percepção que será produzida por elas na escolha dos padrões.
Hierarquia das informações - No ocidente estamos acostumados ler da esquerda para a direita, de cima para baixo. Portanto nosso olho percorre um mesmo trajeto sempre que é acionado por um cenário, então é fundamental para que a composição seja compreendida na embalagem, um elemento tenha dominância em relação aos demais. Por mais que existam muitas informações, determinar o foco central é fundamental. Este foco pode ser uma imagem, a marca, um texto que pode ser lido a uma boa distância da prateleria. Nesse caso é fundamental a escolha da tipografia.
Tipografia - As fontes são símbolos carregados de significados também. Uma fonte fina sugere delicadeza, uma fonte com traços grossos e pesados representa força e solidez, uma manuscrita sugere a presença humana, o "feito à mão", dependendo do traço sugere informalidade, ou nas clássicas, formalidade. As letras representam muito para o nosso cérebro. Você confiaria num hospital que tem o logotipo colorido escrito em Comic Sans? Claro, salvo especificidades do cenário, um hospital infantil com uma proposta bem lúdica, seria uma boa exceção. Este exemplo fecha nossa conclusão:
A regra mais importante de todas: para nada disso existe regra. Sério! A única norma imutável é: CONTEXTO. Entender o cenário e basear as decisões neste contexto com técnica e conhecimento do público, esta é a única regra para o sucesso de um projeto de embalagem.
Quer saber mais sobre como basear as decisões de layout no usuário (público-alvo) e sua percepção? Não perca meu próximo artigo sobre design thinking no projeto de design!
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Referências bibliográficas: - Design de Embalagem - 100 Fundamentos de Projeto e AplicaçãoSarah Roncarelli e Candace Ellicott - Estratégia de Portfólio de Marcas - David A Aaker